- Experimente.
Ela aproximou os lábios da caneca e estendeu as pontas dos dedos para segurá-la.
- Ainda não sei o seu nome.
- Soffia.
Soffia era jovem, aparentava pouco mais de vinte anos, vinte e dois, eu diria. Cabelos pretos, cacheados com mechas clareadas e bastante ondulados. Tinha grandes olhos castanhos, penetrantes como uma noite de inverno, decorados por sobrancelhas bem trabalhadas, o que reforçava minha idéia de que se tratava de uma moça vaidosa. Bem maquiada, bochechas rosadas e grandes lábios vermelhos, muito vermelhos.
- Você gosta de creme no café?
Ela levantou timidamente os olhos e acenou que “sim”.
- Que bom porque eu pedi sem creme e ele trouxe com.
Ela esboçou um sorrisinho ainda muito tímido e ainda bastante sem graça.
- Eu não tenho dinheiro - explicou-se, meio que retornando ao mundo dos vivos (o café parece ter-lhe feito bem).
- Tudo bem, eu também não tenho. Quando eu disser “já” a gente se levanta e sai correndo.
- Hã?!
- É brincadeira, fique tranquila.
- Você é meio doido, não é?
- Sou, mas não espalhe porque ninguém mais percebeu ainda, rs.
Ela sorriu, agora com um pouco mais de desinibição, balançando a cabeça negativamente. As bobagens que eu havia dito pareciam de certa forma, ter feito algum efeito positivo sobre ela (além do café, é claro)
