Outro dia, estava eu parado ali, olhando pro tempo, vendo as pessoas correrem pra lá e pra cá, cuidando de suas vidas, como formigas num jardim, quando no meio da multidão um par de olhos me chamou a atenção. Estavam tristes, ela chorava.
Não chorava convulsivamente, mas chorava.
Nossos olhares se cruzaram por um instante e ela me viu.
Fixou seus olhos em mim, depois de olhar ao seu redor como quem acabara de se dar conta que chorava no meio de uma multidão que estava ocupada demais com contas, compromissos e horários para perceber aquele par de olhos perdidos ali no meio.
Movi a cabeça pra lá e pra cá, tentando em vão esquivar meu olhar dos transeuntes que iam e vinham, procurando não perder meu contado com ela.
Tive a impressão de que ela fazia o mesmo.
Me aproximei, tentando não ser pisoteado. Sim
Ela permaneceu imóvel, ali, entre as pessoas que iam e vinham. Seus olhos ainda estavam vermelhos, mas as lágrimas ela disfarçara. Me olhava, com certa curiosidade e provavelmente algum receio.
Me aproximei mais e percebi que ela tinha um pedaço de papel e o que pareceu ser um envelope nas mãos.
“Uma carta.” – deduzi – “Mas quem ainda lê cartas?”
“– Oi.” – disse a ela sem maiores apresentações.
“– Oi.” – me respondeu abaixando o olhar, procurando disfarçar os olhos vermelhos e evitar a situação constrangedora.
“– Desculpe, moça, mas você está bem?”
Ela só me respondeu com um aceno de cabeça, dizendo que “sim”.
Ela exalava um perfume doce, doce até demais para aquelas horas da manhã.
“– Ele te deixou, não foi?” 

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