“– Do que você está falando? Eu só estou assim porque recebi uma notícia ruim sobre meu pai.”
“– Seu pai, né? Err, escuta moça, aquele bar ali tem um cafezinho excelente, você não gostaria de me acompanhar numa xícara?”
“– Eu nem te conheço, por que acha que eu iria tomar café com você?”
“–Por quê? Em primeiro lugar, porque você mente muito mal. Essa carta que você enfiou de qualquer jeito no bolso do casaco, por acaso, não seria uma carta de despedida de alguém que disse adeus com palavras amorosas, mas cheias de pesar, dizendo que te ama, mas que não pode mais continuar te enganando, seria?”
Ela arregalou os olhos, com quem perguntasse: quem é você?
Estendi-lhe o braço, oferecendo-o para ela se apoiar: “– Com creme ou sem creme?”
Ela relutou por meio segundo, mas resolveu me acompanhar a mesa da cafeteria ha alguns metros dali.
– Quem é você? Você me conhece? Conhece ... ele?
- Não, não conheço você, nem ... “ele”.
- Mas como sabia da minha carta, e do que ela dizia?
- Não sabia. Mas vejamos: você estava inerte no meio de uma onda humana de pessoas que saiam para trabalhar, como quem estivesse sozinha sentada à frente de sua própria penteadeira, em pleno domingo (acontece que hoje é terça e você estava no meio de um calçadão), e se isso não fosse suficiente para perceber que algo de muito grave havia acontecido com você, seu olhos estavam quase catatônicos, me dando então esta certeza.